A universitária de
Botucatu foi internada na UTI com trombose venosa cerebral após tomar pílula
anticoncepcional por cinco anos
Após sentir fortes dores de
cabeça, perder temporariamente o movimento de uma das mãos e pernas e esquecer
como realizar ações básicas do cotidiano, a universitária Juliana Bardella, de
22 anos, foi internada em um hospital de São Paulo onde permaneceu por 15 dias
– três deles na UTI. O diagnóstico? Trombose venosa cerebral devido ao uso
prolongado de pílula anticoncepcional.
Embora o risco do problema devido ao uso de
contraceptivos orais, em especial os que contém o hormônio drospirenona, seja
conhecido, as pacientes ainda são pouco alertadas. Segundo Juliana, ela tomou o
anticoncepcional Yaz, da Bayer, durante cinco anos. Nesse período, ela foi a
três ginecologistas diferentes que nunca mencionaram o aumento do risco de
trombose devido ao uso do medicamento.
Segundo Eduardo
Zlotinik, ginecologista do hospital Albert Einstein, em São Paulo, todo método
hormonal tem impacto na coagulação sanguínea, aumentando o risco de trombose.
Mas, um estudo britânico publicado no ano passado no periódico científico The BMJ mostrou que as pílulas modernas –
surgidas a partir da década de 1990 -, principalmente aquelas que têm
composição com drospirenona (como o Yaz), o desogestrel, o gestodeno e a
ciproterona, aumentam em até quatro vezes a formação de coágulo sanguíneo
grave.
Os hormônios da pílula interferem no sistema
circulatório da mulher de diversas formas. O composto aumenta a dilatação dos
vasos, a viscosidade do sangue e, consequentemente, a coagulação. Com essas
alterações, é possível que sejam formados coágulos nas veias profundas,
localizadas no interior dos músculos. Em geral, os coágulos se formam nas
pernas, mas podem se alojar nos pulmões, formando um bloqueio potencialmente
fatal, ou ainda se mover para o cérebro, provocando um acidente vascular
cerebral (AVC).
Médicos e especialistas ressaltam que
nem todas as pacientes estão em risco. Mulheres que sofrem de enxaqueca,
fumam e têm histórico de trombose na família, possuem um risco 20 vezes maior
de ter um acidente vascular cerebral. Ou seja, no caso delas, nada de pílula
moderna.
No entanto, mesmo em mulheres sem
fatores de risco, como Juliana, a trombose pode acontecer. Segundo a jovem, ela
não tem histórico familiar, não fuma, não tinha predisposição para trombose e
seus exames de sangue sempre estavam normais. E mesmo assim, teve o problema.
Por isso, é preciso estar alerta aos primeiros sintomas.
Dor
de cabeça persistente
Segundo um relato de
Juliana publicado no Facebook na quarta-feira, tudo começou com uma pequena dor de cabeça, que se
agravou por três semanas até ficar insuportável. Em seguida, ela acordou sem conseguir mexer uma perna nem
uma das mãos. A jovem, que mora em Botucatu, onde cursa medicina
veterinária na Unesp conta que, quando a dor de cabeça atingiu um nível
insuportável, ela foi a um hospital da cidade. Entretanto, a médica que a
atendeu apenas deu o diagnóstico de enxaqueca e receitou alguns analgésicos.
Dois dias depois, a jovem acordou para ir a
aula e notou que sua perna e mão direta não respondiam aos comandos e que ela
já não se lembrava como realizar tarefas cotidianas como usar o banheiro, comer
e mexer no celular. Com a ajuda das amigas, Juliana conseguiu contatar
seus pais – que moram em outra cidade. Eles então levaram imediatamente para um
hospital da capital paulista – distante cerca de 230 km de Botucatu. Uma
ressonância revelou a trombose venosa cerebral, uma doença que pode deixar
sequelas graves em cerca de 15% dos casos e levar à morte 6% a 15% dos
pacientes.
Como a jovem não têm predisposição para o
problema e seus exames de sangue estavam normais, os médicos concluíram que a
trombose ocorreu devido ao uso prolongado do anticoncepcional. Hoje, um
mês e meio após a internação, Juliana ainda tem pequenas alterações na visão,
terá que tomar anticoagulantes por um tempo e abandonar os anticoncepcionais
orais.
A jovem contou também que depois de passar
pelo problema, se deparou com diversas outras histórias semelhantes e, embora
não seja contra o anticoncepcional, reforça a importância das mulheres que
tomam manterem-se informadas sobre os riscos.
Efeito
colateral comprovado
Em nota ao G1, o laboratório
Bayer, fabricante do Yaz, informou que a empresa segue a decisão da
Comissão Europeia, que concluiu que “os benefícios dos contraceptivos hormonais
combinados na prevenção da gravidez não planejada continuam a superar os riscos
e que a possibilidade de tromboembolismo venoso (TEV), associada ao uso de
contraceptivos hormonais combinados, é pequena”.
Embora especialistas destaquem que o
índice absoluto de casos de trombose associado ao uso de contraceptivos orais é
baixo, a trombose é um efeito colateral comprovado. Por isso, a
escolha do método contraceptivo deve ser individualizada e decidida pela paciente
em conjunto com um ginecologista.
Os métodos contraceptivos hormonais ainda são
os mais utilizados no Brasil e podem ser encontrados em diferentes
apresentações: oral, injetável, adesivo e implante – que agem impedindo a
ovulação – ou o dispositivo intrauterino (DIU), com ação hormonal local.
Estima-se que 25% das brasileiras utilizem anticoncepcionais por via oral,
enquanto 30% das mulheres em idade reprodutiva optam pela laqueadura.
Fonte: Veja
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